Posfácio (Postface)
José Resende
Este livro leva a público pela primeira vez a reprodução de um conjunto abrangente de trabalhos do artista Fernando Zarif (1962-2009). São cerca de 300 obras, entre desenhos, pinturas e objetos dos mais de 2.000 já catalogados por uma equipe dirigida por Margot Crescenti e Cristina Candeloro Quinn, responsáveis pela curadoria de sua obra, iniciado em 2011 e que deve consolidar-se formalmente como instituição com esse fim num futuro próximo.
A decisão de aqui reunir alguns recortes dessa produção se deve à urgência de despertar a curiosidade e atrair o interesse para o estudo abrangente sobre o tema. Pesquisa que surgirá naturalmente pelas evidentes qualidades da obra e originalidade do artista, além da especificidade de que, como já indica o título do livro, se trata de um trabalho construído a contrapelo do caminho mais comum dentro da denominada produção contemporânea de arte.
Não se trata, portanto, de uma publicação organizada sob a diretriz de um pensamento crítico determinado. Na verdade, como artista plástico que sou, confiei em meu olhar para agrupar trabalhos que guardam afinidade, formando diversos núcleos, que indicam as diversas frentes desenvolvidas, acreditando estar assim facilitando o acesso à complexidade desta obra, e não propriamente buscando construir um pensamento sobre ela, e menos ainda, maneiras de compreendê-la.
Raros foram os escritos sobre o trabalho de Fernando Zarif. Reproduzimos aqui os que foram publicados em catálogos e folders das poucas exposições que fez, inclusive, um deles do próprio artista. O mais antigo, de 1989, é de Décio Pignatari, depois Tunga, Arnaldo Antunes e um de minha autoria para uma mostra no MAM/Rio. Sobre a última exposição de Zarif realizada em vida, organizada por Bia Lessa e Maria Borba no Teatro Tom Jobim, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, da qual fui mais incentivador do que colaborador, editamos uma conversa que nunca havia sido publicada. E, por fim, uma matéria realizada por Erika Palomino, a última feita com ele em vida, na qual ela agregou um emocionado depoimento.
Embora tenha exposto tão pouco o trabalho, considero que o cerne de sua produção se situa aí, sobretudo no desenho que desenvolve como pintura, colagem, objeto, ou seja, manifesta sua forma de ser, compreender e se relacionar com o mundo.
Por outro lado, reconheço nele um agente cultural atuante que incentivou e efetivamente ajudou, impulsionando manifestações de muitos artistas, em áreas bem diversas. Por isso, outras pessoas ligadas a ele também colaboraram conosco, como o veemente depoimento de Lenora de Barros e a intervenção gráfica de Jac Leirner com desenhos do Fernando, fruto do diálogo que mantinham entre si, por meio dos respectivos trabalhos – participações que indicam a generosidade com que Fernando atuava junto a seus pares.
Os depoimentos de Fernanda Torres, Bárbara Gancia, Bia Lessa, Maria Borba e Erika Palomino deixam patente o espectro de sua interferência e participação em áreas que vão da literatura ao teatro, cinema, música, artes gráficas, ou seja, a Arte.
Por fim, não poderia deixar de citar o trabalho de Leticia Moura e Dora Levy, aliadas que deram forma gráfica ao livro e assim muito colaboraram naquilo que nos era primordial: despertar curiosidade e atrair interesse para o trabalho de Fernando Zarif, por confiar que tudo o mais este livro fará por si só acontecer.
… trecho do livro (págs. 256 a 257) em pdf – sem numeração nas páginas e sem páginas em branco