Fernando Zarif no Projeto SP, s/d
Videoinstalação realizada no MIS – Museu de Imagem e
do Som, São Paulo, 1983
Acima Fernando toca chello em concerto, ao lado em performance. MASP – Museu de Arte de São Paulo, s/d
Gravação do programa Rádio Paradiso, na Rádio USP. Acima, o artista aparece em primeiro plano, da esq. para a dir.: a artista plástica Jac Leirner, o jornalista Arthur Veríssimo e Mae East no estúdio da rádio,1986
Cartaz de divulgação da ópera Frankenstern no MASP, 1984. Projeto gráfico e ilustração de Fernando Zarif
Imagens do catálogo da exposição PARA)DOXOLOGIA na Galeria Millan, 1989. Projeto gráfico de Fernando Zarif
Imagens da abertura da exposição PARA)DOXOLOGIA, publicadas na coluna da jornalista Joyce Pascowitch, no jornal Folha de S.Paulo, em 20 de setembro de 1989, p. 2. Da esquerda para direita: Dani Roland, Giulia Gam e Murilo Salles
Obra O espírito deixa o corpo, que integrava a exposição PARA)DOXOLOGIA na Galeria Millan, 1989
Ilustração para a coluna de Barbara Gancia, no Caderno Ilustrada do jornal Folha de S.Paulo, 2002
Arte realizada por Fernando Zarif para o cartaz do álbum TUDO AO MESMO TEMPO AGORA, da banda Titãs, 1991
Convite para o lançamento
do álbum TINANOMAQUIA,
da banda Titãs, cuja capa foi
desenhada por Zarif, 1993
Capa do folder da exposição Chuva – Desenhos e Cartas, na Galeria Millan, 1990. Arte e projeto gráfico de Fernando Zarif
Capa do catálogo Fernando Zarif, na Galeria Millan, São Paulo, 1993. Projeto gráfico de Fernando Zarif
Capa do catálogo e fotosda exposição O Corpo Humano e Outros Corpos, de Fernando Zarif, no MAM/RJ – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1995
Fernando Zarif na exposição Operação Pl.stica, na Galeria Millan, São Paulo. Imagem publicada no jornal Folha de S.Paulo, em 30 de outubro de 1997
Fotos da exposição 555, de Fernando Zarif, realizada na Galeria Millan, 1994
Fotos da exposição 555, de Fernando Zarif, realizada na Galeria Millan, 1994
Folder da exposição Le Mus.e
imaginaire de Fernando Zarif,
na Maison Des Arts Andr.
Malraux, Cr.teil, Fran.a, 1998
Fernando Zarif na exposição Le Mus.e imaginaire de Fernando, na Maison Des Arts Andr. Malraux, Créteil, Fran.a, 1998
FERNANDO ZARIF: NOTAS PARA UMA CRONOLOGIA
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A erudição era um dos traços mais marcantes de Fernando Zarif, lembrado por todos os artistas plásticos, jornalistas, músicos, cenógrafos, atores, cineastas, dramaturgos e designers que com ele conviveram. A trajetória intelectual do artista, no entanto, não seguiu o convencional. O ensino tradicional foi abandonado quando ele concluiu o ensino médio no colégio paulistano Dante Alighieri. Deu início ao curso superior de Arquitetura, mas não levou adiante. Preferia o estudo informal, com cursos livres e aulas particulares. Estão entre seus professores o poeta Décio Pignatari e o músico Hans-Joachim Koellreutter. Construiu, ao longo da vida, um sistema próprio de reflexão e estudo sobre os temas que mais lhe interessavam: as artes, as religiões e os mitos antigos.
Aos dois anos e meio, começou a desenhar. Aos oito, Pietro Maria Bardi comentou durante uma visita que a criança tinha um “grafismo extraordinário”. Convivia muito com o avô materno, o poeta libanês Chafic Maluf, de quem ouvia histórias da mitologia do país de origem. A livraria da mãe, May Zarif, foi, durante anos, uma porta de acesso aos inúmeros livros que compõem sua biblioteca. Desde cedo, foi apresentado aos grandes museus, às óperas e aos espetáculos internacionais de dança. Viveu sempre em São Paulo, mas gostava de viajar regularmente para Nova York, Paris e Veneza. Conheceu o Japão e a China. Também foi ao Líbano, onde se encantou com a luz local, as ruínas, os fenícios. A fazenda da família, em Botucatu, interior de São Paulo, foi um lugar importante não apenas na infância, mas até a vida adulta, onde ele se refugiava para produzir. Conhecia os grandes clássicos da filosofia ocidental e chegou a estudar grego. Mas lia também, com o maior interesse, o que podia de filosofia oriental. Interessava-lhe, sobretudo, o estudo das religiões, dos oráculos, do sagrado. O gosto pelos clássicos e pelo transcendental, no entanto, não o impedia de admirar o cinema de Woody Allen nem de gostar de jazz – Cole Porter era seu favorito. A cultura pop e as referências clássicas estavam presentes em seu dia a dia e também nas suas obras. Richard Wagner era, de longe, seu artista favorito. Talvez tal predileção diga respeito a certa afinidade de Zarif com a ideia de obra de arte total, tematizada pelo compositor alemão. A atuação de Zarif envolve as artes plásticas, o teatro, a música, a videoarte, a literatura… Embora não gostasse do termo multimídia, é preciso dizer que seu trabalho acontece na convergência entre diversos meios e disciplinas. Ele desenhava, fotografava e, mais tarde, começou a fazer objetos. Ao mesmo tempo, gostava de música e tocava tabla e violão. Compôs canções pop e produziu, entre outras peças gráficas, as capas dos discos da banda de rock nacional Titãs “Titanomaquia”, 1993 (álbum cujo nome foi dado por Zarif) e “Tudo ao mesmo tempo agora”, 1991. Criou cenários para peças de teatro. Fez ilustrações para a coluna da jornalista Barbara Gancia no jornal Folha de São Paulo no início dos anos 2000. Sua atuação foi ampla e variada. Estas notas cronológicas são um primeiro esforço de reunir alguns pontos importantes de sua carreira. |
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1960 | Nasce Fernando Zarif na cidade de São Paulo. |
1979 | Frequenta por cerca de três anos o curso de Arquitetura na Federação das Faculdades Braz Cubas, hoje Universidade de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. |
1982 | Com 21 anos, realiza a primeira exposição individual, no espaço Gabinete Fotográfico, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Expõe cem fotografias coloridas feitas com uma Polaroid SX-70. |
1983 | Apresenta, dentro da programação de Música do auditório do MASP – Museu de Arte de São Paulo – as performances Dois Movimentos, Concerto Plástico Digital I e Concerto Plástico Digital II, com músicas de Richard Wagner e John Cage.
Em performance realizada na Avenida Paulista, em frente ao parque Trianon, “Projeto/Construção de um encontro em cinza para tipos cinzentos ao amanhecer”, Fernando Zarif e outras oito pessoas pintadas de cinza se sentaram em volta de uma mesa com flores, frutas, pratos e talheres cinza. Uma bailarina e um garçom rondavam o lugar, servindo os outros performers, que inicialmente estavam estáticos mas, depois, começavam a comer e conversar. O trabalho durou das 6 às 11 horas da manhã e foi visto pelas inúmeras pessoas que transitavam no local. Apresenta uma videoinstalação no MIS – Museu de Imagem e do Som – em São Paulo. |
1984 | Participa do Encontro de Música Contemporânea, no Sesc Pompéia, em São Paulo. O evento reuniu os nomes mais expressivos da vanguarda artística, como os maestros H.J. Koellreutter e John E. Boudler; a pianista e compositora brasileira Jocy de Oliveira e a cantora Ana Maria Kieffer. No evento, Zarif apresenta a performance Concerto, em companhia do músico e arquiteto Emanuel de Melo Pimenta. O trabalho usava computador, sax, trompete, trombone, fita cassete, sintetizador, cantores, atores anões e até mesmo uma escola de samba. A apresentação foi produzida por Emanuel e baseada em textos dos escritores Guimarães Rosa, Jorge Luis Borges entre outros.
Realiza mais um projeto com o artista Emanuel de Melo Pimenta, no Paço das Artes, em São Paulo. O trabalho envolvia a manipulação de energia estática e contava com controles remotos e vinte aparelhos de TV. Simultaneamente, slides projetavam imagens dos televisores tiradas com uma lente macro. Ao fundo, ouvia-se a música Torre de Babel/Esperanto, produzida por Melo. Apresenta a performance/Yugen no CCSP – Centro Cultural São Paulo. Apresenta a ópera eletrônica minimalista “FRANKENSTERN” junto ao poeta e escritor Décio Pignatari e Emanuel de Melo Pimenta no MASP. A apresentação, concebida e executada por meio de vídeos, sintetizadores e computadores, foi baseada na obra “Frankenstein” de Mary Shelley (1821) e nos textos bíblicos da Gênese. No cenário, doze aparelhos de televisão foram instalados; cada um exibia uma das doze partes do corpo de “Frankenstern”. A criatura futurista foi representada por vários atores performáticos, cujas atuações foram gravadas por Zarif. Além da apresentação dos vídeos, os televisores foram transportados por doze performers vestidos de preto em uma coreografia. A parte musical, toda composta por Emanuel, contou com a participação especial das cantoras Ana Maria Kieffer, Magali Mussi, Madalena Bernardes, Claudia Matarazzo, Ghandula e do pianista Aimár César. O espetáculo foi apresentado em uma única noite – 12 de dezembro – e durou 1 hora e 20 minutos. |
1986 | Participa de exposição coletiva com Theo Castilho e Isabelle Van Oost, no restaurante-galeria Vol de Nuit, em Paris.
Produz e apresenta o programa Rádio Paradiso, de música erudita contemporânea, aos sábados à noite, na rádio USP (93,7 mhz) em companhia do jornalista Arthur Veríssimo. Em um dos programas, o artista pretendia fazer uma adaptação da peça radiofônica Para Acabar com o Juízo de Deus, do dramaturgo francês Antonin Artaud (1896-1948). A apresentação, que contaria com a participação de Marcelo Tas, Pepe Escobar, João de Bruço e Veríssimo, foi censurada e suspensa antes mesmo de ir ao ar pelo radialista e professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Mário Fanucchi, que acabara de tomar posse do cargo de diretor da rádio. A censura causou polêmica e foi noticiada em vários veículos de comunicação. |
1988 | Participa da exposição coletiva 1/88 na galeria Montesanti, em São Paulo, junto de outros jovens artistas da época: Márcio Antonon, Marina Godoy, Neuza Petti, Ricardo Barreto e Jacqueline Terpins. Vinte e três trabalhos foram expostos na coletiva organizada pelo curador Miguel de Almeida. Fernando mostrou pinturas que ficavam entre a figuração e a abstração, com formas reconhecíveis e momentos de experimentação material com a tinta acrílica sobre tela. A mostra abriu a programação da galeria para o ano de 1988.
Participa do leilão de arte Não Intencional, no MAC – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. No espaço, foram expostos objetos de uso pessoal de artistas como Leda Catunda, Cláudio Tozzi, Aldemir Martins, José Roberto Aguilar, entre outros. O motivo do evento, organizado por Artur Matuck e Tadeu Jungle, era parodiar o leilão do acervo do artista pop Andy Warhol, que, na época, agitou o mercado de arte de Nova York. O acontecimento fez parte das atividades em comemoração aos 25 anos do museu. Participa do grupo musical Vestidos de Espaço em parceria com os titãs Branco Mello, Arnaldo Antunes e Charles Gavin, a cantora Paula Toller, o músico Jorge Mautner e o produtor Liminha. O grupo lançou apenas um compacto com duas músicas, “Pipi Popô” e “Marcha do Demo”, que foram assinadas por Zarif sob o pseudônimo de Pepino Carnale. Fernando era um dos dublês do grupo e subia ao palco somente mascarado. Na época, ninguém sabia quem eram os integrantes da banda, que só foram revelados depois que o grupo desapareceu. Dirige e produz a performance Phoenix, Sísifo e Prometeu, no espaço Aeroanta, em São Paulo, ao lado do grupo musical Pizzicato Bartock. |
1989 | Realiza a exposição individual Para)doxologia na Galeria Millan, em São Paulo. Na mostra, o artista apresenta dezoito pequenos objetos e cinco desenhos. Entre os objetos estão “INRI”, 1989, um crucifixo de dados colados sobre uma placa de mármore; “Ósculo”, 1989, dois óculos colados um em frente ao outro, entre outras assemblages. Pequenas obras de mesa, os objetos nasceram com a mudança de apartamento do artista, quando ficou sem ateliê de pintura. “Fui tirando as coisas do caixote, um amigo tinha deixado uma cola superbonder e daí fui colando um objeto no outro – à medida que se uniam na minha cabeça”, declara o artista para uma matéria de Cláudio Lucchesi Cavalca publicada no Jornal da Tarde em 22 de setembro de 1989. Também escreveu sobre esta exposição para O Estado de S. Paulo, de 30 de setembro de 1989, o jornalista Pepe Escobar, para quem os “ready-mades de Zarif podem significar a implosão absoluta de sentido na cultura contemporânea”, para ele, as obras apresentadas na galeria eram “filhinhas espirituais de Man Ray, Duchamp e Picabia”. A exposição contou com a participação especial de Adriana Adam na iluminação e Geraldo Anhaia Mello na videoprojeção apresentada na abertura da mostra. |
1990 | Realiza a exposição individual Chuva – Desenhos e Cartas, na Galeria Millan, em São Paulo, em que expõe desenhos sobre papel e desenhos sobre mapas impressos. |
1993 | Realiza a exposição individual Fernando Zarif, com dez telas no formato 50 x 60 cm (técnica mista), nove delas inspiradas em mitos gregos e uma na “Monalisa”, e uma instalação composta de esculturas intituladas Auréolas, na Galeria Millan, em São Paulo. As Auréolas eram pequenas peças arredondadas, feitas de materiais diversos, como vidro e metal, pregadas na parede e iluminadas de cima de modo a projetar um sombra intensa. |
1994 | Realiza a exposição individual 555 de pinturas, fotografias e texto, na Galeria Millan, em São Paulo. O título da mostra refere-se à data aproximada de nascimento de Heráclito de Éfeso, Lao Tsé e Buda. Para o artista, havia grande similaridade entre os três pensadores que “refletiam sobre o inefável, a quinta dimensão, o inconsciente coletivo, o absoluto com diferentes pontos de vista”. O texto que acompanhou a mostra, feito pelo artista dois anos antes, guardava afinidades com os trabalhos apresentados e por isso foi incluído na exposição. |
1995 | Realiza individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, O Corpo Humano e Outros Corpos. Com treze trabalhos, foi sua maior exposição em uma instituição brasileira. Faziam parte alguns autorretratos: “Time is Money”, sem data, uma pilha de moedas unidas por um fio de cobre, com 1,82 m de altura, “Quinze anos depois”, também sem data e medindo 1,82 m, que consiste em uma pilha de chaves metálicas, além de duas fotografias, que mostram partes do rosto do artista replicadas e sobrepostas. Há mais obras que remetem a partes do corpo humano, como a coluna, a pele, o esqueleto, entre outras.
Participa da mostra coletiva 2ª United Artists: Utopia, na Casa das Rosas, em São Paulo. |
1997 | Participa com outros artistas da exposição Arte Suporte Computador, na Casa das Rosas, em São Paulo.
Realiza a individual Operação Plástica, na Galeria Millan, em São Paulo. Para a exposição, o artista apresentou 250 telas de pequenas dimensões – 14 x 22 cm e 15 x 18 cm – com rostos feitos com materiais como cola, zíper, pinça, caneta, cigarro, incenso, chumbo, escova, cabelo, bola de gude, entre outros. Na entrada da galeria, o artista apresentou um trecho do livro A Origem das Espécies, do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882). Para o então editor do caderno Ilustrada do jornal Folha de São Paulo, Sérgio Dávila, Fernando Zarif declarou: “Movimento e modernista são redundantes, é o mesmo que dizer deserto e Saara, busco uma volta ao moderno da idade moderna, quero Newton e Darwin. Daí os retratos, os rostos.” (FSP, 30 outubro de 1997, p. 5). |
1998 | Realiza a exposição individual Le Musée Imaginaire de Fernando Zarif, na Maison Des Arts André Malraux, em Créteil, França. Esta foi a maior exposição do artista e reuniu trabalhos feitos nos últimos dez anos. Entre eles, um conjunto de aproximadamente 190 pequenos retratos nomeados “Cirurgia estética”, 1997, que foram parte da exposição “Operação Plástica”, além de outros 50 trabalhos. Desenhos sobre mapas, como “Europa”, 1989, esculturas de grandes dimensões como “Calvário”, 1995, e “INRI – Cruz de pregos”, 1998, foram expostos junto com outras séries de pinturas e desenhos. |
2009 | Participa da mostra Inventário do Tempo Livros, com curadoria de Bia Lessa e Maria Borba, no Espaço Tom Jobim, Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Em última aparição, Cadernos, Fernando mostra cadernos de desenhos produzidos durante quase dois anos, feitos com grafite, Durex, plumas, seda, grampos, guache, óleo e carvão entre outros materiais. Os cadernos, descritos pelo artista como um “discurso sobre o desenho”, eram folheados página por página em cima de uma mesa durante três horas, enquanto uma câmera filmava e projetava as imagens em um telão. O evento Inventário do tempo: Livros contou com outras apresentações, debates, experiências gastronômicas e musicais com diversos artistas, durante todo o mês de junho. As atividades fizeram parte do processo de criação do espetáculo Formas Breves, de Bia Lessa e Maria Borba. |
2010 | Falece no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. |
2011 | A família do artista dá início ao Projeto Fernando Zarif destinado a catalogar, preservar e difundir a obra do artista. Localizado em São Paulo, o projeto abriga a biblioteca pessoal do artista, bem como documentos, fotografias e escritos relativos a sua obra. Até o momento, já foram catalogadas e restauradas cerca de 2 mil obras. |
… trecho do livro (págs. 236 a 255) em pdf – sem numeração nas páginas e sem páginas em branco |